A saga até a primeira parada

Comprei minha passagem na Ryanair, uma das companhias européias low cost. Pra quem não sabe como funciona, uma breve explicação: essas empresas operam trechos dentro da Europa a preços incrivelmente baixos, principalmente se comprado com antecedência, mas isso tem lá seus inconvenientes:

1. Você tem direito a UMA bagagem de mão pesando no máximo 10 quilos e dentro das seguintes dimensões: 55cm x 40cm x 20cm. Eles não refrescam! Mulheres nem pensem que podem levar uma malinha  e mais a sua bolsa de mão. É UMA peça e acabou-se! E pra garantir que a mala atende às exigências, ‘simpáticas’ grades estão espalhadas pelos aeroportos. A regra é clara: a mala coube na grade, tudo ótimo. Se não coube, tem que despachar, e pagar por isso! A Ryanair é a mais chata nesse quesito e a EasyJet a mais flexível (eles nem pesam).

2. Os aeroportos ficam longe da cidade de destino. Geralmente é algum subúrbio ou município nos arredores. É como parar em Viracopos quando o destino é São Paulo. Dependendo do destino e da companhia o trajeto de ônibus até a cidade é oferecido gratuitamente.

3. (Esse é um ponto negativo pra alguns, mas eu como uma boa brasileira farrofeira, me divirto!) Como o voo é de baixíssimo custo, tudo que é consumido é vendido no avião. Acontece que algumas companhias se empolgaram e hoje além de lanche, perfumes, relógios, cigarros, vendem até raspadinhas. HAHAH… Ainda caio na gargalhada quando ouço a aeromoça super empolgada NOT anunciando que aquele pode ser seu dia de sorte.

*Não consegui comprar com essa tarifa, simplesmente por uma questão de datas.Isso é um print screen da tela enquanto eu procurava a minha passagem. Isso mesmo SETE EUROS Porto-Paris!

Enfim, voltemos ao que interessa.

Pra mim ainda valia a pena optar pela Ryanair, mas como já estamos no outono (roupa de frio peeesa!) e minha viagem seria de mais de 10 dias optei por despachar uma bagagem. Primeira vez que considerei essa opção, pois sempre achei um absurdo pagar para despachar a mala quase o mesmo valor da passagem em si, mas ok. Então eu tinha direito a uma bagagem de mão mais uma mala de até 25 quilos para despachar.

Meu voo saía às 10h45min de Eindhoven, 90 quilômetros de Utrecht. Na manhã da viagem acordei cedinho para acertar os últimos detalhes: mandar e-mail pro Ítalo, pros meus pais, fechar hotel… essas coisas. Quando resolvi checar o horário de trem percebi que eu já estava em cima da hora. Meu trem pra Eindhoven saía 8h24min e já era 8h. Corri pra desligar o computador, fechar a mochila, trancar o quarto, pegar tudo o que precisava e pedalar até a estação. Eu, na minha mini bike e com uma mochila quase do meu tamanho, pedalei com toda a força das minhas pernas e pulmões. Chegando tranquei a magrela não-sei-onde e corri pra dentro da estação. Cheguei esbaforida às 8h21min e ao verificar o painel, um alívio! O trem estava 15 minutos atrasado. ÓTIMO! Tempo suficiente para me recuperar do esforço físico e de fazer um lanchinho matinal.

Enquanto comia meu sanduíche, comecei a fazer contas. 8h24min + 15min de atraso = 8h39min + 50min até Eindhoven = 9h29min + 25min de ônibus da estação de Eindhoven até o aeroporto = 9h54min. ‘Beleza, vai dar certo’, pensei.

Às 8h30min o painel muda de novo e anuncia mais 25 de atraso. VINTE E CINCO MINUTOS, NÃÃÃÃO!!! NÃO pode ser! ‘Não posso perder esse voo.’ Vou até a central de informações e pergunto por outras opções que me levam até Eindhoven e nada! Não existe nenhum outro trem indo pra lá. Começo com a matemática de novo: 8h39min + 25min de atraso = 9h04min +  50min até Eindhoven = 9h54min + 25min de ônibus da estação de Eindhoven até o aeroporto = 10h19min. É, tá difícil, dona Luciana.

Comecei a pensar em soluções alternativas. ‘Será que consigo um trem de Eindhoven pro Porto? Como que vou avisar a Anny? E o ítalo?!’ Melhor parar de pensar nisso. 30 longos minutos se passaram e eu embarquei no trem, esperando que o universo conspirasse a meu favor e eu ainda conseguisse pegar o avião. Afinal sou brasileira,  não desisto nunca! 😉

O trem chegou em Eindhoven às 9h em ponto. Ufa, 4 minutos de crédito. Corri pra parada de ônibus (sorte eu já ter feito esse trajeto antes e saber exatamente pra onde ir) e eis que o ônibus está lá, esperando por mim. Assim que eu entro, ele sai em direção ao aeroporto e pra minha surpresa ele não demora 25 minutos, mas 19. Mais 6 minutos de crédito, somados aos 4 = 10min de saldo. Minhas esperanças começam a voltar. Já podia me imaginar chegando à Portugal e correndo pro abraço da minha amiga tão amada.

O ônibus chegou ao aeroporto às 10h09min e eu corri pra fazer meu check-in e pegar o carimbo da imigração. Quando chego no balcão a moça fala com toda a calma desse mundo: ‘tarde demais, você perdeu.’ Trinta segundos de silêncio até eu conseguir reagir: ‘NÃÃÃO! Não, moça, não é possível. O voo só sai daqui 30 minutos’ eu falei, já entrando em pânico. E ela me responde que cheguei tarde demais pra despachar as malas…. perdi o check-in, não o voo. VAI ASSUSTAR OUTRA! Ela pesou minha mochila e, pasmem, tinha exatos 10 quilos! Se eu conseguisse fazer a minha bolsa de mão (gigante) caber na minha mochila eu podia embarcar com ela. Havia luz no fim do túnel, eu nem podia acreditar!

Corri em direção à sala de embarque, ainda com a bolsa na mão. Pelo horário, a moça que verifica a bagagem deixou eu passar, com a ressalva que eu deveria guardar a bolsa na mochila. ‘Podêxar!’ respondi com um sorriso de orelha a orelha. Eu nunca tinha visto tamanha tolerância na Ryanair antes. Nunquinha! Segui para o raio X. E lá também, tudo certo, nenhuma reclamação, apesar dos xampus e cremes na mochila. Tava achando que aquele era mesmo meu dia de sorte.

UFA! Eu estava na sala de embarque. A fila pro meu voo já estava chegando ao final. Tentei, rapidamente, colocar minha bolsa com câmera, livros, documentos, stroopwafels na mochila, sem sucesso. Resolvi ‘amarrar’ minha bolsa no topo da mochila, como se fosse um sleeping bag. Tava me achando linda e inteligente com essa idéia. Entrei no final da fila e quando chegou a minha vez a atendente me olhou com cara de susto, chamou uma colega e começou a falar holandês. Eu voltei a entrar em pânico. ‘Não é possível que vou ficar depois de tudo que já aconteceu’ eu pensava enquanto elas discutiam e faziam ligações. Eis que uma delas me leva até a bendita gradezinha e me diz: ‘se tua mochila couber aí, tu podes levar, caso contrário, ela fica.’ Olhei pra gradezinha magriiiinha e pra minha companheira gordinha e pensei: lascou-se!

Com um pouco de jeito e muita força consegui fazer minha beloved backpack caber na grade, mas a bolsa no topo era exatamente o que estava excedendo o tamanho. De novo a recomendação: ‘faça essa hadbag caber aí, que você pode embarcar’. Eu queria chorar. Como socar minha câmera, meus livros e os stroopwafels numa mochila já lotada?! Desafiei as regras da física e com um pouco de brutalidade consegui tal façanha. Os stroopwafels não couberam mas as holandesas orgulhosas falaram: isso você pode levar na mão. Como eu queria muito que a Anny experimentasse, topei.

Entrei no avião exausta! Fisica e psicologicamente! Eu era a última passageira. Tava tão desorientada que a aeromoça falou: ‘Tem assento livre no final’ e eu, sem entender nada, respondi em inglês: ‘Sorry, I don’t speak Dutch.’ e ela, olhando para o passaporte que estava na minha mão, repetiu pausadamente: ‘tem assento livre no final’. Ok, ela era portuguesa e estava falando Português desde o início. DÃ, Luciana! Whatever, o importante é que eu entrei. Procurei um lugar vago (não, não tem assento marcado :P) e sentei, aliviada. O holandês engraçadinho, que estava do meu lado, ao ver meus pacotes de stroopwafels soltou: ‘gostei do lanchinho.’ ¬¬ Preferi nem responder.

Finalmente, Porto, aí vou eu! o/